terça-feira, 23 de outubro de 2012

Jovens, superdotados e negligenciados

Estudantes com fraco desempenho são ignorados pelos orçamentos

The NewYork Times
Por Chester E. Finn Jr., presidente do Instituto Thomas B. Fordham e membro sênior do Instituto Hoover, da Universidade Stanford, é autor, com Jessica A. Hockett, de "Escolas diferenciadas: Por dentro das escolas de Ensino Médio mais seletivas dos Estados Unidos".
 
Tanto Barack Obama quanto Mitt Romney estudaram em escolas privadas de elite. Ambos são, inegavelmente, inteligentes e bem-educados e devem muito de seu sucesso à forte base que obtiveram em excelentes escolas.
Todo jovem americano motivado e de alto potencial merece uma oportunidade semelhante. Mas a maioria das crianças extremamente inteligentes não tem os meios necessários para se matricular em escolas particulares rigorosas. Eles dependem da educação pública para prepará-los para a vida. No entanto, esse sistema não está conseguindo criar oportunidades suficientes para centenas de milhares desses meninos e meninas de alto potencial.
Na maior parte das vezes, o sistema os ignora, com políticas e prioridades orçamentárias que se concentram em proporcionar uma melhoria do nível dos alunos que obtêm resultados fracos. Isso é algo bom e necessário, mas nós não conseguimos melhorar ainda mais o nível de quem está bem acima da média.
O descaso da educação pública para com os alunos de alta capacidade não apenas nega aos indivíduos as oportunidades que eles merecem. Ele também põe em risco as futuras provisões de cientistas, inventores e empresários do país.
Essa falha sistêmica observada nos dias de hoje ocorre de três formas.
Primeiro, temos muitas dificuldades em identificar as crianças "talentosas e superdotadas" cedo, principalmente se elas são pobres ou se são membros de grupos minoritários ou não têm pais esclarecidos e insistentes.

Segundo, nos níveis fundamental e médio de ensino, não temos salas de aula suficientes para alunos acima da média (com professores e grades curriculares adequados) para atender nem mesmo a demanda existente. O Congresso negou financiamento ao Programa Jacob K. Javits de Educação de Alunos Superdotados, única iniciativa de Washington para incentivar uma educação desse gênero. Confrontados com as limitações no orçamento e a pressão do Governo Federal para dar um jeito em escolas de péssima qualidade, muitos distritos estão deixando de oferecer aulas avançadas, bem como de artes e música.

Terceiro, muitas escolas limitam bastante as aulas de colocação avançada ou para alunos que têm mérito acadêmico, às vezes repletas de crianças que são brilhantes, mas que não estão verdadeiramente preparadas para se sair bem nelas.

De vez em quando, no entanto, aparecem escolas públicas que se concentram exclusivamente em alunos superdotados e motivados. Algumas são famosas em todo o país (Boston Latin, Bronx Science), outras são conhecidas principalmente por sua própria comunidade (Walnut Hills, de Cincinnati; Academia de Artes Liberais e Ciências, de Austin). Quando minha colega Jessica A. Hockett e eu saímos à procura dessas escolas para uma pesquisa, descobrimos que esse terreno nunca tinha sido mapeado antes.
Em um país com mais de 20 mil escolas públicas, encontramos apenas 165 dessas escolas, conhecidas como "exam schools" – escolas diferenciadas para alunos que demonstram excelência no aprendizado. Elas educam cerca de 1 por cento dos estudantes dos Estados Unidos. Dezenove estados não dispõem de nenhuma delas. Apenas três cidades grandes têm mais de cinco dessas escolas (Los Angeles não tem nenhuma). Quase todas têm candidatos mais qualificados do que elas têm condições de acomodar. Por isso, trabalham com práticas de admissão muito seletivas, afastando milhares de estudantes que poderiam se beneficiar do que elas têm a oferecer. A aclamada Escola de Ensino Médio Thomas Jefferson para a Ciência e Tecnologia, do Norte da Virgínia, por exemplo, recebe cerca de 3.300 candidatos por ano – dois terços deles academicamente qualificados – para 480 vagas.

Nós montamos uma lista, entrevistamos os diretores e visitamos 11 escolas. Aprendemos muito. Embora as escolas difiram em muitos aspectos, suas ofertas de cursos lembram turmas de colocação avançada em termos de conteúdo e rigor, conseguem resultados fabulosos de encaminhamento de alunos para as universidades, e as melhores delas expõem os alunos à independência no estudo, a estágios desafiadores e a projetos de pesquisa individuais.

Os críticos as chamam de elitistas, mas nós descobrimos o contrário. Elas são escolas excelentes que são acessíveis a famílias que não têm como pagar pelo ensino privado ou por casas em áreas residenciais caras. Embora as escolas diferenciadas de algumas cidades não cheguem nem perto de refletir os dados demográficos de seu entorno, o número de estudantes de baixa renda que se matriculam nessas escolas, em âmbito nacional, é equiparável ao número de alunos que se matriculam no Ensino Médio como um todo. Os jovens afro-americanos são "sub-representados" e os asiático-americanos também (21 por cento contra 5 por cento em escolas de Ensino Médio, no total). Os latinos são sub-representados, mas os brancos também.

Isso não é tão surpreendente. Pais educados e de condição financeira melhor podem ter acesso a várias opções para suas filhas e filhos superdotados. As escolas privadas de elite ainda existem. Assim como New Trier, Scarsdale e Beverly Hills. As escolas que nós estudamos, em geral, são oásis educacionais para famílias que têm crianças de inteligência notável, mas poucas alternativas.

Elas também são portos seguros – escolas onde todos se concentram no ensino e na aprendizagem, não em manter a ordem. Eles têm times desportivos, mas são as suas orquestras que se destacam. Sim, alguns já tiveram que reprimir a prática da cola, mas não existe problema em ser nerd nessas escolas. O aluno fica cercado por jovens como ele – alguns ainda mais inteligentes – e têm aulas com professores capacitados que topam o desafio – professores que, com uma frequência maior do que as equipes de grande parte das escolas de Ensino Médio do país, têm título de Doutorado ou experiência na docência em nível universitário. O aluno não precisa ser revistado para que se verifique se ele está carregando uma arma antes de entrar na escola. E tem grandes chances de se formar e conseguir entrar em uma boa faculdade.
Muitos outros alunos poderiam se beneficiar de escolas assim – e os números se multiplicariam se nosso sistema de ensino agisse da maneira correta com esses alunos nas séries iniciais. Mas isso só vai acontecer quando reconhecermos que não deixar nenhuma criança para trás significa prestar atenção tanto naquelas que já dominam o básico – e têm capacidade e motivação para fazer muito mais – como naquelas que ainda não sabem ler nem subtrair.

É hora de acabar com o preconceito contra a educação de alunos superdotados e talentosos e parar de presumir que todas as escolas devem dar conta de tudo para todos os alunos, uma fórmula simplista que acaba negligenciando a existência de uma diversidade de meninas e meninos, muitos deles pobres e provenientes de grupos minoritários, que se beneficiariam mais estudando em escolas públicas especializadas. Os Estados Unidos deveriam ter mais de mil escolas de Ensino Médio para estudantes desse tipo, não 165, além de escolas de Ensino Fundamental e Médio que identifiquem e preparem os seus futuros alunos.

Com o apoio que demonstraram à ideia de que as famílias devem ter a liberdade de escolher o local e o tipo da escola em que seus filhos estudam, Romney e Obama também reconheceram que as crianças não são todas iguais e que as escolas também não devem ser. No entanto, o medo de parecerem elitistas provavelmente irá impedi-los de propor a criação de mais escolas diferenciadas. O que é irônico e triste, considerando as escolas onde estudaram. As crianças excepcionalmente inteligentes não deveriam ter de estudar em escolas privadas ou ser recusadas pela Bronx Science ou pela Thomas Jefferson simplesmente porque não há lugar para elas.

Fonte: http://noticias.r7.com

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